No último COSMO-CINE vimos o 1. episódio da clássica série "COSMOS", de Carl Sagan. Nesse documentário, vimos que a Grande Biblioteca de Alexandria foi o farol luminoso do saber da humanidade durante vários séculos.
O que me leva a escrever este tópico são dois assuntos fundamentais que gostaria de ressaltar a todos vocês:
1) Havia nesta Biblioteca de Alexandria um livro chamado "A História do Mundo", em 3 volumes, escrito por um sacerdote babilônico chamado Berossus. Somente o volume 1 tratava do NASCIMENTO DO MUNDO ATÉ O DILÚVIO - um período que, segundo Berossus, durou 432 MIL ANOS!
Esses 3 volumes de Berossus simplesmente estendem o período histórico da humanidade em mais de 432 mil anos para o passado! Atualmente somente temos registros históricos de 5 mil anos, sendo os mais antigos os registros hieróglifos egípcios e a escrita cuneiforme dos Sumérios, e dos últimos temos a história do DILÚVIO, depois repassada para o antigo testamento pelos hebreus. Ou seja, toda nossa história antiga conhecida abrange os volumes 2 e 3 de Berossus (pois o volume 2 inicia-se do Dilúvio para a frente). O volume 1, no entanto, abrange 432 mil anos da História Humana, do início do mundo até o Dilúvio.
A Biblioteca de Alexandria foi queimada diversas vezes, e saqueada outras tantas vezes. Do seu imenso acervo, poucos e dilacerados resquícios sobreviveram até hoje. E infelizmente os livros de Berossus não sobreviveram às dilapidações da famosa Biblioteca. Com isso mais de 432 mil anos da História da Humanidade se perderam!
O que teria ocorrido durante essas vastas centenas de milênios? Imagine! O ser humano de 432 mil anos atrás não era em nada diferente de nós, hoje em dia. A capacidade craniana, a estrutura corporal, enfim, tudo era semelhante a nós hoje. Pensemos agora um pouco mais: a humanidade desenvolveu-se cientificamente após a grande noite medieval. Com apenas 400 anos de relaxamento e distanciamento relativo do fanatismo religioso, alcançarmos nossa ciência e tecnologia atual, onde o homem já foi à Lua, vai constantemente ao espaço, criou uma medicina e uma tecnologia que expandiu enormemente seu padrão de vida e longevidade. Temos computadores, voamos, navegamos pelos oceanos, submergimos até as profundesas abissais, criamos arranha-céus de centenas de metros de altura, criamos ilhas, observamos aglomerados galáticos distantes bilhões de anos-luz de nós, enviamos sondas robóticas para explorar os planetas do sistema solar, etc. Isso em apenas 400 anos. O que poderíamos ter feito nos 432 mil anos, descritos no livro de Berossus? Só podemos cogitar.
2) Ao lado de nomes imensos, sábios da História Universal, como Aristarco de Samos, Euclides, Eratóstenes, Arquimedes, Galeno e Ptolomeu, o nome de uma MULHER sobressai-se, ligada à Grande Biblioteca de Alexandria. É a primeira vez, em termos históricos, que uma mulher é claramente e inquestionavelmente relacionada ao desenvolvimento científico mundial. Seu nome é Hipátia.
Sobre Hipátia, Sócrates Escolástico (não é o Sócrates Sócrates, vejam bem... Hipátia nasceu vários séculos depois deste Sócrates famoso) relata:
“Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipátia, filha do filósofo Theon, que fez tantas realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos de seu tempo. Tendo progredido na escola de Platão e Plotino, ela explicava os princípios da filosofia a quem a ouvisse, e muitos vinham de longe para receber seus ensinamentos.”
Carl Sagan escreveu em seu livro Cosmos, sobre essa maravilhosa mulher:
“Há cerca de 2000 anos, emergiu uma civilização científica esplêndida na nossa história, e sua base era em Alexandria. Apesar das grandes chances de florescer, ela decaiu. Sua última cientista foi uma mulher, considerada pagã. Seu nome era Hipátia. Com uma sociedade conservadora a respeito do trabalho da mulher e do seu papel, com o aumento progressivo do poder da Igreja, formadora de opiniões e conservadora quanto à ciências, e devido a Alexandria estar sob o domínio romano, após o assassinato de Hipátia, em 415, essa biblioteca foi destruída. Milhares dos preciosos documentos dessa biblioteca foram em grande parte queimados e perdidos para sempre, e com ela todo o progresso científico e filosófico da época.”
Essa Grande Mulher nutriu toda uma época com a luz do conhecimento e do saber. Calaram-lhe a voz e empurraram sua lembrança para as profundezas do esquecimento. Mas, dois milênios não foram suficientes para apagá-la da memória de todos os famintos pela verdade. Hipátia retorna forte e vibrante ao alcance daqueles que buscam por seus ensinamentos. Ainda há pouco, enquanto terminava minha última pesquisa para esse artigo, me deparei com a notícia de que
Apesar de assassinada, apesar da Grande Biblioteca de Alexandria - que tanto lhe deu base para crescer e difundir seu saber - ter sido queimada e arrasada para sempre, Hipátia mantém ainda hoje, mais de 2 mil anos depois, o foco luminoso de seu espírito brilhante: o diretor Alejandro Amenábar recentemente lançou no festival de Cannes o filme Ágora, que conta ao mundo a vida de Hipátia de Alexandria.
Como uma homenagem ao espírito imortal dessa grande mulher, repasso a todos abaixo, o link para o filme Ágora, de Alejandro Amenábar:
http://www.mediafire.com/?avoctau2imm65